Hoje o tema é vinhos varietais e os blends, ou vinhos de corte. Mas você sabe a diferença entre esses dois tipos de vinhos?
Vamos lá: Os vinhos varietais são os vinhos produzidos somente com um tipo de uva e os vinhos blends ou de corte são “misturas” de duas ou mais tipos de uvas. Mas para falar sobre esse assunto precisamos voltar à história dos vinhos.
Existem registros que o vinho é produzido há mais de 5.000 anos. Na Europa, por exemplo, o vinho é produzido desde a época do Império Romano.
Na Europa, o que caracteriza o vinho é a sua região produtora, a região é muito mais importante do que a casta da uva especificamente, onde aliás nem sempre no rótulo é informado quais uvas compõe o vinho. As grandes regiões produtoras de vinho da Europa são: França, Itália, Espanha e Portugal, claro que vários outros países como a Alemanha e a Áustria, por exemplo, também tem uma produção importante de vinhos, mas vamos focar hoje nas mais conhecidas no Brasil.
Na França as principais regiões produtoras de vinho são:
- Bordeaux: Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Sauvignon Blanc e Sémillon. Os famosos vinhos de corte “Bordalês” são produzidos com blends de Merlot, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon
- Borgonha: Pinot Noir (Os famosos Bourgogne) e Chardonnay (Os famosos Chablis)
- Beaujolais: Gamay e Chardonnay
- Champagne: Pinot Menier, Pinot Noir e Chardonnay. Os espumantes denominados Champagne só podem utilizar esse nome quando são produzidos nessa região, no método tradicional e com essas três uvas principais.
- Norte do Rhône: Syrah, Viognier, Marsanne e Roussane – Região do famoso Hermitage
- Sul do Rhône: Grenache, Syrah, Grenache Blanc e Vermentino.
- Loire: Cabernet Franc, Gamay, Chenin Blanc e Sauvignon Blanc. Região do Sancerre (vinho doce)
- Alsácia: Pinot Noir, Riesling, Gewüztraminer, Pinot Blanc e Pinot Gris
- Languedoc-Roussilon: Syrah, Grenache, Carignan, Merlot, Cabernet Sauvignon, Cinsault, Chardonnay, Sauvign Blanc, Muscat e Grenache Blanc
- Jura: Poulsar, Pinot Noir, Trousseau, Chardonnay e Savagnin
Na Itália as principais regiões produtoras são:
- Piemonte: Barbera, Dolceto, Nebbiolo, Muscat, Moscato e Cortese. Região dos famosos Barolos e Barbarescos e espumantes Moscatel
- Trentino Alto: Teroldego, Lagrein, Pinot Noir, Chardonnay, Pinot Grigio, Pinot Bianco e Sauvignon Blanc
- Friuli: Cabernet Franc, Refosco, Friulano, Pinot Grigio, Sauvignon Blanc, Pinot Bianco, Ribolla Gialla
- Vêneto: Corvina e Garganega. Valpolicella, Soave e Prosecco (Glera)
- Toscana: Sangiovesse, Cabernet Sauvignon e Trebbiano Toscano. Chianti e Brunello de Montalcino
- Marche: Sangiovese, Montepulciano e Verdicchio.
- Puglia: Negroamaro, Primitivo, Nero Di Troia, Malavasia Nera, Bombino Bianco e Minutolo.
- Sicília: Nero D’Avola, Nerello, Catarratto.
Na Espanha as principais regiões produtoras são:
- Galícia e Bierzo: Garnacha, Mencía, Albariño. Godello
- Rioja: Tempranillo, Garnacha e Macabeu
- Ribeira Del Duero, Rueda e Toro: Tempranillo, Verdejo
- Catalunha: Grenache, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo, Carignan, Macabeu, Xerello, Parellada. Cava – espumante produzido no método tradicional com as uvas: Macabeu, Xerello, Parellada.
- Andaluzia: Palomino Fino e Pedro Ximánez. Vinhos Jerez (vinho com adição de destilado de uva – vinho fortificado)
Em Portugal as principais regiões produtoras são:
- Minho: Vinho Verde e Alvarinho
- Porto: Vinho do Porto – Touriga Nacional
- Dão: Jaen (Mencía), Touriga Nacional e Encruzado
- Beira Atlântico: Bairrada Espumante, Bairrada Tinto e Arinto
- Lisboa: Arinto, Fernão Pires, Trincadeira e Alicante Bouschet
- Setúbal: Moscatel de Setúbal e Castelão
- Trasmontano: Trás-os-Montes Tinto
- Vale do Douro: Porto, Touriga Nacional e Tinta Roriz
- Tejo: Fernão Pires, Arinto, Sauvignon Blanc e Chardonnay
- Alentejo: Alicante Bouschet, Aragonez, Trincadeira, Antão Vaz, Encruzado, Arinto
Quando começaram as imigrações dos europeus para o chamado Novo Mundo, começou a disseminação do consumo de vinhos nas Américas e Oceania (Nova Zelândia e Austrália). Esses imigrantes que consideram o vinho como alimento, e em meados do século XVI começaram a procurar formas de produzirem seus vinhos nas colônias. Nas Américas se iniciou a produção de vinhos com as uvas nativas da região, as chamadas “Vitis Americanas” ou “Vitis Labrusca”, porém esses vinhos não tinham a mesma qualidade e aromas dos vinhos produzidos na Europa. Somente nos séculos XVIII e XIX que começou a introdução das castas francesas no Chile e na Argentina, e como algumas castas começaram a ser mais bem sucedidas nessas regiões, o Novo Mundo passou a denominar seus vinhos pela casta da uva e não pela região produtora. Aqui no Brasil, a produção de vinhos finos é mais recente ainda que nos nossos vizinhos, somente na década de 90 que a produção de vinhos das uvas “Vitis Viníferas” começou a tomar corpo, principalmente no Sul do país na região do Vale dos Vinhedos no RS. Em função dessa “demora” do Brasil em produzir vinhos finos, mais de 60% do consumo de vinho no Brasil é de vinhos de mesa, produzidos com as uvas “Vitis Americanas”. Nós brasileiros, em função de ser mais acessível ao nosso mercado, dos vinhos do Chile e da Argentina, aprendemos a comprar vinhos pela casta da uva. De alguns anos para cá, principalmente nos últimos 10 anos, os produtores de vinhos do Chile, da Argentina e também do Brasil, começaram a se arriscar no mundo dos vinhos de corte, e também nas regiões produtoras. Isto é, estamos começando a denominar também nas Américas, os vinhos pela região produtora, não só pela casta. Inclusive com a aprovação das denominação de origem na região.
Mas o que um vinho varietal e um vinho de corte podem nos oferecer de diferente no consumo em si? Quando consumimos um vinho varietal, vamos degustar as características daquela casta especificamente, por exemplo, quando você toma um vinho da uva Syrah você já espera um vinho com aromas de mirtilo, ameixa, chocolate ao leite, tabaco e pimenta preta. Já quando você toma um vinho de corte por exemplo o vinho chileno Ramirana de Syrah e Carménère, você provavelmente vai degustar um vinho mais complexo em aromas como: frutas pretas, como amoras e mirtilos, com notas de especiarias como pimenta e cravo. Outro ponto, os blends equilibram muito o vinho, tomei outro dia um vinho de corte com as uvas Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot, que resultou um vinho super-equilibrado, que harmoniza muito bem com várias pratos e que me proporcionou uma sensação muito agradável de um vinho macio, potente, muito equilibrado e fácil de beber. Ou seja, nos blends, o enólogo imprime todo seu conhecimento, criatividade e competência para criar vinhos únicos e maravilhosos.
É isso pessoal, o mundo do vinho é muito instigante e amplo, então não se prenda só a uma casta de uva que te agrada, experimente coisas diferentes, de países diferentes, que tenho certeza que você vai se surpreender.